Ed. 33 — Vai procurar a sua turma! Ou, uma ode aos encontros de fãs de literatura

E aí, beleza?
Existe uma força bem estranha na frase “vá procurar sua turma”. Costuma ser usada como ofensa, mas eu vejo mais como um farol: deve existir de fato uma turma, um grupo de pessoas parecidas comigo, onde eu não vá me sentir tão deslocado do mundo.
Bem, um desses lugares deve ser a Flipop.
Devo dizer, para efeito de esclarecimento, que não sou autora de textos young adult, tampouco tenho o costume de lê-los – mas isso não me impede de querer conhecer o público e os outros autores na área. A graça da vida é a variedade, afinal, e você sempre pode aprender alguma coisa nas palestras (e eu aprendi um bocado ouvindo gente com pontos de vista e experiências de vida completamente diferentes à minha — é assim que a gente amplia nossa visão de mundo).
Eu fui à Flipop para encontrar o lado mais jovem da minha turma. Gente que tem o mesmo imenso entusiasmo pela literatura do que eu – e com pelo menos dez anos a menos do que eu, em média, o que também dá um fôlego novo para a causa. Não só não estou sozinha como tem mais gente vindo, ótimo! A turma não vai morrer de inanição ou de cansaço. Teremos mais textos e mais pessoas que não se sentem alienígenas pelo que são e pelo que trazem ao mundo.

Retrato da autora da newsletter com sua Imensa Bolsa Verde™
durante a Flipop. Quem achasse a bolsa, ganhava broches da Dame Blanche
A vida de uma escritora pode ser bem solitária – não é brincadeira quando eu chamo encontros de autores de “reunião anual do grupo de eremitas”. Quando você vive de tirar histórias do ar fino e colocá-las no papel, a vida pode ser um tanto desprovida de companhia. Eventos em que você pode não só encontrar os leitores mas bater papo com eles ajuda muito a soprar mais ânimo em um produtor de textos já meio cansado de briga e de solidão.
E, para os leitores, ver que os autores também querem bater papo – ver que eles não são aquelas criaturas míticas e inalcançáveis no alto da torre – também é algo maravilhoso. Pegar autógrafo ou foto, ou ainda agradecer pelo texto divertido ou intrigante, é uma ocasião maravilhosa (eu não tinha nenhum livro do Samir Machado de Machado para que ele autografasse no dia, mas poder dizer para ele pessoalmente o quanto adorei “Quatro Soldados” valeu o meu dia).
E, claro, você ganha de brinde mais marcadores de página do que poderia usar em um ano — mas tudo bem, marcadores de página nunca são demais, pode vir mais que não me importo.
Eis o “X” da questão: nós temos que encontrar a nossa turma. Quando descobrimos que tem outras pessoas que dividem as mesmas angústias e tem os mesmos objetivos, parece que o fardo fica um pouco mais leve para carregar. Não digo que resolve tudo, mas pelo menos já alivia um pouco.
Não precisa ser necessariamente na Flipop, ou na Bienal do Livro da capital do seu estado. Se tem um evento de literatura na sua área, compareça. Se tem uma oficina, compareça. Não dá para ir? Dá aquele “compartilhar” na rede social para avisar outras pessoas que a feira existe, que vai ter aquela mesa-redonda ou evento. Esse tipo de atividade só se sustenta se os organizadores percebem que tem algum público para elas.
Se não tem um evento na sua cidade, já pensou em ser o primeiro ou primeira a organizar? Não precisa ser nada megalomaníaco – todo evento de fã já teve a sua fase “trinta pessoas numa garagem emprestada” em algum momento.
O importante, até por uma questão de sobrevivência mental, é ir procurar a sua turma — e ir encontrá-la pessoalmente de vez em quando. Você não está tão sozinho no mundo quanto parece. E saber disso — ver isso na sua frente — pode ser tudo o que você precisa para seguir em frente e colocar seus mundos imaginários no papel, não importa o seu público ou a sua idade.
Falando nisso, algum de vocês vai à Bienal do Livro em SP? Eu tenho mais alguns broches da Dame Blanche para distribuir. Vamos nos encontrar? :D
Com um abraço,
Anna
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